na sala vazia escrevemos juntas por não poder falar

"Preguiça é o meu nome.
Eu toda sou só preguiça.
Preguiça é bicho, é homem.
É dificuldade de crescer.
Preguiça é preguiça.
Que vontade de deitar..." - S
***

"Sexo é o meu nome.
Eu toda sou só sexo.
Sexo animal não é coisa só de bicho, é de homem também.
É sensualidade de deitar.
Sexo é sexo.
Que vontade de deitar..." - H
***

"Sou pó. Não sou nada.
Quero ser tudo, permanecer tudo.
O que é tudo?
Ora, se não o meu desejo!
Sou pó." - S
***

"Ela foi cacos a cada metáfora.
Ele foi dedos a cada sombra.
Eles foram lapsos de saudade.
Ele se tornou uma mentira eo amor virou uma diáspora." - H

devaneios

No escritório cinza, ela está sozinha.
O tédio, o estrondo das buzinas, os estranhos virtuais.
Ela escuta uma música antiga em francês enquanto recorda um sonho. Quem era mesmo aquele no seu sonho?
Os pés em cima da mesa, o marasmo de uma tarde sem trabalho, as unhas vermelhas a fazem pensar pecado.
***
Estava numa modorra, esperando por ele, de costas. A respiração sem compasso se extraviava do controle e ela fechou os olhos em desejo.
Ele chegou por trás, roçando os braços nas suas costas nuas e puxando de leve com os dentes os fios na nuca dela, descendo a mão naquela bundinha que ele tanto cobiçava.
Ela aquiesceu entre suspiros e eles trançaram suas pernas, indo direto para a cama.
***
Às seis e meia ele quis levantar, mas ela se enroscou nele com vários braços e laços e por mais uma hora permaneceram sob os lençóis.
***
Eles estavam em um concerto de rock. Ela tomava uma dose de uísque, dançando, linda. E ele a observava. E observava as outras, todas. Os ferormônios subindo em suas narinas e ele foi ao bar pegar uma cerveja. Tinha mulher demais ali, ele precisava de um escape.

***
Ela deu de presente a ele um pôster da Luma de Oliveira, nua em pêlo. No outro mês trouxe um da Daniela Sarahyba. Não se sabe aonde ela achou aquilo, a mulher nua também. Depois foi a vez da Cicarelli. Ele sempre se surpreendia. Ela nem dizia nada. Ele adorava.
Um dia qualquer sua tia entrou no quarto para experimentar um vestido e, vendo aquilo, perguntou:
“Minha filha você está louca? Deixar o Genaro colocar esses pôsteres na parede assim?”
E ela:
“Ora tia é ótimo, ele olha para elas e desconta em mim!”
***
Ela sempre deixava as vontades passarem, assim como as nuvens vão, devagarzinho.
Sempre cautelosa.
Ela sempre queria mais.
Mas sem atitude não dá.

- S