encontro no quarto-aquário

Acho que eu posso contar melhor agora que os meus sonhos me mostram linhas enquanto eu ressono tranquilamente dentro do meu quarto aquário. Bolhas sobem ao teto e o brilho das estrelas mais próximas entra pelas frestas da janela. Lá fora o ar morno dos trópicos sopra asas de libélula pelo ar, o tilintar suave me acorda e eu saio da água pela janela, molhando as folhas. É lua nova e ela me sorri. Percebo o aquário cada vez mais forte ao meu redor, entornando o céu apenas aos meus olhos.
Um braço forte em tons laranja me pega a mão e quando menos se espera minha casa é uma semente e minha casca tem vários tons. Entramos na toca, o rato e eu, para troca incessante de pequenas carícias e eu te amos. Mas lá era escuro e nos perdemos, eu só percebi a falta de luz quando caiu um salto e eu já não sabia mas em qual caminho seguir, o que me guiava eram seus arquejos suaves e o cheiro. Um cheiro familiar, cheiro de rato.
Tentei por vezes acender a luz, mas não encontrava o interruptor, quando de súbito abriram a porta e já era dia. Era dia e eu não tinha saias, o sapato sem salto joguei fora, era mesmo sem coração, ele tinha-me sido tão bom nos momentos difíceis. O rato sumira com a luz, mas eu nem dei conta, pois vieram folhas flutuantes como os tapetes mágicos de histórias do passado e eu, pequenina, voei agarrada a uma delas. Cheguei perto do sol, era salgado e não era tão quente assim como dizem. Junto a mim, vaga-lumes sorriam dizendo “ieeee”, era o efeito-sol, que assim, visto de perto, dá uma alegria. E lá eles armazenavam um pouco do brilho salgado para trazer à Terra. Como num sonho, voltei ao tamanho normal e caí do céu em montes fofos de pequenas flores amarelas. Fiquei ali recebendo os raios do sol, uma modorra às sete da manhã, pus uma música, voltei pra cama de flores e desadormeci.

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